Alejandro Arnutti, Artigas/Uruguai, 1981. Vive e trabalha em Uruguaiana/RS. Aos 8 frequentou a oficina de desenho da Casa da Cultura de Artigas; já aos 18 teve uma rápida passagem pelo ateliê de Elsa Trolio em Salto/Uruguai. Sua pesquisa tanto na pintura quanto na escultura se fez de forma quase autodidata, tendo feito diversas releituras de grandes mestres do Barroco, Realismo, Impressionismo e Pré-Rafaelitas antes de iniciar sua produção autoral.
Suas obras tomavam como ponto de partida a observação do natural da vida rural no campo onde viveu toda a sua infância, adolescência e juventude, ou de fotos de sua autoria ou de outros fotógrafos. Mas em 2022 ele se especializou também em fotografia documental com os fotógrafos e passou a viajar para visitar estâncias no RS, Uruguai e Argentina que além de preservar as tradições gauchescas também preservam a mata nativa do Pampa e o gato palheiro dos pampas (felino mais ameaçado de extinção do planeta) no seu trabalho com pecuária e ovinos. Desde esse mesmo ano o artista passou a tomar apenas fotografias de sua autoria como ponto de partida para suas criações na pintura. Outro tema importante da obra de Alejandro é o extermínio dos índios Charrua, que também habitaram o Pampa.
O artista possui obras em acervos públicos da Prefeitura e Câmara de Vereadores de Uruguaiana/RS, além da Prefeitura de Quarai/RS, entre estas destaca-se a obra “Retomada de Uruguaiana na Guerra do Paraguai” medindo 3,05 x 7,35 metros. Além disso possui obras em coleções particulares em países como Espanha, Inglaterra, EUA, Alemanha, Uruguai, Argentina e Brasil. Foi premiado em importantes prêmios, como o salão “Encuentros del Arte Contemporaneo” em Punta del Este/Uruguai, e o prêmio “Trajetórias Culturais” promovida pelo instituto Trocando Ideia de Porto Alegre/RS. Já teve importantes exposições individuais em Porto Alegre/RS, Montevidéu e Punta del Este/Uruguai. Para saber mais visite a aba "Bio e Currículo"
Nasci, cresci e passei toda a minha vida em cidades de fronteira. Até meus 4 anos vivi no interior de Artigas, cidade uruguaia que faz fronteira com o Brasil. Depois fui viver no interior de Uruguaiana/RS, que faz fronteira com Paso de los Libres/Corrientes/Argentina. Durante minha infância, adolescência e juventude passava os dias de semana do lado uruguaio com meus avós para cursar meus estudos, e os fins de semana no campo do lado brasileiro com meus pais, onde também trabalhava muitas vezes. Nas reuniões de família até hoje o idioma oficial é o portunhol. Esse dialeto também sempre foi muito falado em Artigas, especialmente nas periferias, onde ficava mais abrasileirado, e as palavras do espanhol e português parecem dançar uma vaneira ou tango de tão entrelaçadas. Esse mesmo portunhol também sempre foi muito falado no interior tanto uruguaio quanto brasileiro próximos as fronteiras. Ali sempre observei esse fato dos gaúchos se parecerem mais aos uruguaios, e até mesmo aos gaúchos argentinos do que aos brasileiros da metade norte do RS e dos outros estados brasileiros. Seus valores, costumes, indumentaria e gastronomia são muito semelhantes; a ponto de quando se reunião nos eventos culturais, como as yerras (marcação e castração das manadas de gado regadas a música e churrasco) nas estâncias era difícil saber para quem vinha de fora quem era uruguaio ou brasileiro. O próprio RS já foi parte do território uruguaio em certo momento histórico, e em outro foi o Uruguai que fez parte do Brasil.
Uma coisa que acompanhei de perto durante meus anos no campo foi o avanço das monoculturas, principalmente o cultivo de soja, suplantando as estâncias que criavam o gado preservando a mata nativa do bioma Pampa. Este é o mais esquecido e desmatado bioma brasileiro, tendo perdido mais de 34% nos últimos 37 anos, e estima-se que se o desmatamento continuar nesse ritmo o Pampa desaparecerá completamente em 2043. Ele percorre grande parte do Uruguai, parte da Argentina e a metade sul do RS, e contém a maior biodiversidade do Brasil com 57 espécies de plantas por metro quadrado.
Se o pantanal tem a onça pintada, nosso Pampa tem o “gato palheiro”, felino mais ameaçado de extinção do planeta. Ele vive somente na mata nativa do Pampa e já perdeu mais de 80% do seu território. Por esse motivo a partir de 2022, após estudar fotografia documental, eu decidi começar a visitar essas estâncias localizadas no interior do RS, Uruguai e Argentina, longe das cidades, que trabalham o manejo do gado e da ovelha preservando a mata nativa e assim preservando o gato palheiro. Eu registro não apenas as paisagens e os animais, mas também o rosto desses gaúchos e o seu dia a dia nas lides do campo, e algo que pude notar nessas viagens é que as novas gerações desses gaúchos não pegaram o gosto pela vida solitária e resiliente dos fundões isolados dessas estâncias, e preferem tentar uma vida na cidade para ter acesso a seus confortos e vantagens; e assim sem os filhos por perto esses gaúchos envelhecem de forma cada vez mais solitária, sem encontrar quem de continuação ao seu legado.
Então busco registrar não apenas as belezas que a natureza proporciona, mas essas transformações socioambientais no Pampa cada vez mais esquecido e devastado. E as fotos que registro dessas viagens nesses 3 países, desde 2022, são a minha única fonte de inspiração e ponto de partida para as minhas criações na pintura.